domingo, 1 de abril de 2012

Landmarks

Literalmente, e num sentido geral, é qualquer coisa através da qual o limite de uma propriedade é definida. Em tempos antigos, a divisão correta das terras eram objeto de grande importância. Pedras, árvores e morros constituíam os marcos habituais. A remoção de um ponto de referência era considerado um crime hediondo pela lei judaica, como pode ser interpretado pela denúncia de Moisés:
«Maldito aquele que remover os marcos do seu próximo» Dt. 27:17
Da natureza dos landmarks da Maçonaria tem havido divergências de opinião, ainda assim tornou-se assente a convicção que os verdadeiros princípios constituintes são os costumes universais da Ordem, que têm crescido gradualmente nas regras permanentes da ação e, originalmente estabelecidos pelas autoridades competente, num período tão remoto cuja sua origem não pode ser encontrada nos registros da história maçónica, e que foram considerados essenciais para a preservação e integridade da instituição, de forma a preservar a sua pureza e impedir inovações.


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BIBLIOGRAFIA:

1. Macoy, Robert. A Dictionary of Freemasonry. New York: Masonic Pub. Co. - 1815.

segunda-feira, 26 de março de 2012

A Câmara de Reflexão

Os princípios da Maçonaria são universais, no entanto, a maneira pela qual eles são apresentados ao profano, quando este bate nas portas dos nossos templos, varia de acordo com o ritual usado em qualquer templo particular. Embora as lições apresentadas nestes rituais possam ser semelhantes, a forma como são transmitidos para o futuro iniciado pode ser bem diferente de uma área para outra.

A maioria dos Irmãos que receberam a sua iniciação nas Américas, Europa, Médio-Oriente e África estará familiarizado com a Câmara de Reflexão. É usada no primeiro grau no Rito Escocês Antigo e Aceito, o Rito Francês, e outros ritos dos mesmos derivados. A palavra ‘câmara’ é um termo arcaico para o quarto e ‘reflexão’, de acordo com o Dicionário António de Morais Silva de Português atual significa Ação de retroceder; Ação de um corpo que muda de direção depois de havido tocar noutro corpo; Ricochete; desvio de direção das ondas sonoras e luminosas; Atenção aplicada às operações do entendimento, aos fenómenos da consciência e às próprias ideias. Albert G. Mackey na sua Enciclopédia da Maçonaria explica que a Câmara de Reflexão é:

«uma pequena sala adjacente à Loja, em que, preparatório para a iniciação, o candidato é fechado com o propósito de se entregar a essas meditações sérias que a sua aparência sombria e os emblemas sombrios com os quais é fornecido são esperados transmitir.»

Esta pequena sala ou câmara, que não necessariamente contígua à sala de Loja, é escura, com as paredes pintadas de preto, ou, imitando uma caverna rochosa no subsolo. Ele contém o seguinte: a mesa tosca de madeira simples em que encontramos: um crânio humano, um pedaço de pão, um jarro com água, um recipiente com sal, outro com enxofre, uma vela acesa, uma ampulheta, tinta, papel e caneta, um galo, uma foice, o sigla V.I.T.R.I.O.L. e vários dizeres.

A CÂMARA

A câmara lembra a si mesmo das cavernas onde os homens primitivos viviam. Na psicanálise, é um símbolo de regressão. É também um símbolo do ventre materno. O profano está regredindo a um tempo de inocência e estado no ventre da sua mãe. Quando ele sai da câmara, será como se nascer como um novo homem. Pelo contrário, a caverna também pode ser o símbolo de uma sepultura, como os túmulos dos antigos nos tempos bíblicos. Assim, a câmara indica, ao mesmo tempo, um começo e um fim: o fim da vida como um profano, e o início de uma nova vida como um iniciado em busca da luz, verdade e sabedoria. Isso também pode ser interpretado como uma forma de ressurreição. Este motivo da morte e ressurreição é mencionada na ‘Imortalidade da Alma’ de Plutarco, deste modo:

A alma no momento da morte, passa pela mesma experiência daqueles que são iniciados nos grandes mistérios. A palavra e o acto são semelhantes: dizemos telentai - para morrer - e telestai - ao ser iniciado.

A CAVEIRA

Juntamente com a foice, e a ampulheta, a caveira naturalmente refere-se à mortalidade e está ligada às referências alquímicas também presentes na Câmara. Os alquimistas procuravam transmutar metais em ouro e prata através do processo de putrefação. Assim importa ao profano transmutar a sua natureza, através de um enterro simbólico na câmara, num novo homem transformado na forma de um iniciado. Na alquimia isso é chamado de “a grande obra”. De facto, o refinamento do homem na transmutação e transformação de um metal base em ouro bruto requer um grande trabalho! A caveira na alquimia, chamada caput mortuum, é o epítome de declínio e decadência.

PÃO E ÁGUA

O pedaço de pão e água são símbolos da simplicidade, apontando para o futuro iniciado e como ele deve conduzir sua vida. O pão é feito de trigo, um elemento ligado às deusas Isis e Demeter. Isis é a deusa-mãe egípcia e também a deusa dos mortos, mais uma vez, dois dos aspectos da Câmara de Reflexão. Além disso, de acordo com a descrição antiga de uma iniciação nos mistérios de Isis por Apuleus, o candidato foi colocado numa cela isolada e posteriormente participou de uma cerimónia na qual ele teve de superar provações. Demeter foi celebrada na grande festa no templo de Eleusis, que ficou conhecida como os mistérios de Eleusis. O pão e a água representam os elementos necessários à vida, mas mesmo que o alimento e o corpo material, sejam indispensáveis , eles lembram o candidato que o aspecto físico não deve ser o objetivo principal de sua existência. Além disso, esses elementos lembram-nos da narrativa bíblica sobre o profeta Elias, que também está relacionado com esses elementos e uma caverna (Reis I, 17:8-11). Ele fundou uma escola de profetas numa caverna na montanha. Além disso, Elias depois de comer pão e água, escalou o monte de Deus, da mesma forma que o futuro iniciado, alimentado por esses símbolos pode suportar os ensaios e seguir em frente escalando a sua própria montanha. Elias, uma vez no monte, também ouviu Deus com a voz serena e delicada, assim como o candidato deve seguir sua voz interior ao longo de sua vida, como podemos ler na Bíblia em Reis 19:5-13.

ELEMENTOS ALQUÍMICOS

Três dos elementos alquímicos usados na grande obra eram sal, enxofre e mercúrio, os quais estão presentes na Câmara de Reflexão. O enxofre é símbolo do espírito, sendo um princípio masculino, referindo-se ao entusiasmo e correspondente à virtude da fé. O sal é um símbolo da sabedoria, sendo considerado neutro, referindo-se à ponderação (algo que o candidato faz na Câmara de Reflexão) e correspondente à virtude da caridade. Mercúrio aparece por vezes como um galo desenhado na parede da Câmara de Reflexão. Este animal está ligado à divindade Hermes, isto é, Mercúrio. É um princípio feminino, referindo-se a vigilância e que corresponde também a fé. Como o galo canta ao amanhecer anunciando a luz do dia, assim que anuncia para o futuro iniciado, a luz que ele pode receber.

A AMPULHETA

Este objeto serve de lembrete da mortalidade. Ele também traz à mente que o tempo corre rápido, apenas como a areia atravessa a ampulheta. Também transmite o significado que devemos fazer bom uso do tempo. Além disso, o candidato é lembrado que, ele deve escrever suas respostas e testamento filosófico dentro do prazo estipulado.

V.I.T.R.I.O.L.

Vitríolo é um ácido sulfúrico ou um sulfato utilizado nas operações alquímicas de outrora. Esta palavra é a origem do adjetivo vitriólico, que significa cáustico ou hostil, referindo-se ao discurso ou crítica. No entanto, no sentido esotérico, é um acrónimo para a frase em latim: Visita Interiora Terrae Rectificandoque Invenies Occultum Lapidem que significa: Visitar o interior da Terra, e retificando-o, encontrará a pedra escondida. Se alguém leva este conselho, metaforicamente, o significado transmitido é que, deve-se procurar dentro de si mesmo, como a verdade está escondida ali, e esta verdade é a verdadeira solução para os nossos problemas. Mais uma vez, um acrónimo muito apropriado para ser colocado na parede antes da iniciação, enquanto o iniciado escrever o seu testamento filosófico.

A BANDEIROLA: "VIGILÂNCIA E PERSEVERANÇA"

Estas duas palavras intimam o candidato que este deve possuir estas qualidades para ter sucesso na sua vida maçónica. Os símbolos, alusões, alegorias e metáforas dos rituais não são simples. O maçom deve analisá-las com persistência, a fim de apreciar a sua riqueza e significado profundo, e ser vigilantes para que as lições aprendidas não devem ser esquecidas.

AS PERGUNTAS

Ao candidato é dado um pedaço de papel com três perguntas, que ele deve responder sinceramente, a fim de prosseguir com a iniciação. As respostas às perguntas do candidato são o ponto inicial para a elaboração de seu testamento filosófico e moral.

O TESTAMENTO FILOSÓFICO

O testamento filosófico fornece um vislumbre da atitude e caráter do futuro iniciado e é único para cada indivíduo. A verdadeira natureza do candidato será escrita pelas suas respostas às perguntas propostas, bem como no seu testamento filosófico. Por outro lado, ele também pode trazer-lhe descrédito, dependendo das suas respostas. Na Câmara de Reflexão, ele tem tempo para reconsiderar o seu pedido de admissão na Fraternidade. Se as suas motivações não são puras como admoestados pelos escritos na parede, ou se ele está com medo e não tem coragem suficiente, então ele não pode ser capaz de manter inviolados os segredos da Maçonaria. Além disso, solitário na Câmara de Reflexão, a perspectiva do iniciado pode refletir nas questões apresentadas, sobre sua vida e futuro. Portanto, a reflexão a que o título desta Câmara refere-se, não é apenas a reflexão do candidato, mas principalmente o reflexo do seu próprio ser interior. Isso poderia levá-lo a desacreditar em determinados casos.

CONCLUSÃO

Mesmo sem ir além do escopo desta exposição, e apresentar o resto do ritual de primeiro grau como é executado na maioria dos países do mundo, podemos imaginar o impacto que esta pequena parte inicial do ritual faz sobre um candidato ao ser conduzido a esta honrosa instituição. A Câmara de Reflexão ensina, de fato, poderosas lições. A verdadeira iniciação é um processo individual interno. Ninguém pode transformar um homem, mas somente nós mesmos. Outros podem orientar e ajudar, mas em última instância, somente o indivíduo é o único que pode realizar a grande obra. A Câmara de Reflexão realmente simboliza este processo. 

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Original em Inglês apresentado pelo irmão Hélio L. da Costa Jr. no Grande Dia Maçónico em Vancouver, Canadá a 16 de Outubro de 5999. Traduzido e editado para português por M.·.M.·. para a R.·.L.·.M.·.A.·.D.·. - Nº 5 sob os auspícios da GLLP/GLRP, a Oriente de Cascais - em 11 de Dezembro de 6011.

BIBLIOGRAFIA:

1. Ambelain, Robert. Scala Philosophorum ou la symbolique maconnique des outils. Paris: Edimaf, 1984. 
2. Bayard, Jean-Pierre. La spiritualite de la Franc-Maconnerie. St-Jean de Braye: Editions Dangles, c1982. 
3. Boucher, Jules. A simbólica maçónica. São Paulo: Editora Pensamento, c1979.
4. Hamilton, Edith. Mythology. New York: New American Library, c1969.
5. Holy Bible. Temple ill. ed. Nashville: A.J. Holman, c1940.
6. Mackey, Albert G. An encyclopedia of Freemasonry. New and rev. ed. Chicago: Masonic History Company, c1927. 
7. Manual de aprendiz maçom segundo o sistema do rito brasileiro. Brasilia: Grande Oriente do Brasil, 1986. 
8. Papus. ABC illustre díoccultisme. 8e ed. Paris: Editions Dangles, 1975.
9. Ritual rito Escocês Antigo e Aceito 1º grau aprendiz. 6a. ed. [Brasília]: Grande Oriente do Brasil, 1986.